Pensar Livre - Ribeirão Preto
2º Dia:
Sérgio Amadeu, sociólogo, professor da Cásper Líbero, ex-diretor do ITI, falou sobre a “sociedade em rede” e sobre o impacto dos Softwares Livres na mesma.
Sérgio começou por apresentar o histórico do surgimento da “sociedade em rede” atual.
Nos anos 70, software e hardware eram desenvolvidos e comercializados em um único pacote. Apenas nos anos 80/90 houve a separação. E como isso aconteceu?
Em 1877, a Apple lança o microcomputador Apple II, se arquitetura “fechada” (patenteada) e um sistema operacional próprio. A IBM, buscando novos mercados, entra numa corrida para lançar um modelo de microcomputador em um ano, Para acelerar o projeto, utilizou processadores de uma outra empresa (Intel) e outros componentes prontos em uma plataforma “aberta”, e licenciou um sistema operacional da empresa Microsoft: o MS-DOS, que havia sido “comprado” de Tim Paterson – estudante universitário, na época – por 40 mil dólares. Resultado: a despeito do que Ken Olsen havia dito (“Não vejo porque alguém haveria de ter um computador em casa”), surge o PC – Personal Computer – que se tornou um equipamento doméstico.
A disseminação de uma arquitetura de hardware padronizada e aberta favoreceu a separação definitiva entre “máquina” e “programa”: aí entra a Microsoft, que passa a licenciar o MS-DOS em outros computadores além dos da IBM. (OBS: “A Microsoft não vende software: vende licenças de propriedade”)
Hoje, computador é uma “máquina de comunicação humana” graças à Internet e, conseqüentemente, aos protocolos de comunicação de máquina, como o TCP/IP. Esse protocolo foi herdados dos militares por universidades e comunidades hackers – que a desenvolveram. O IP é baseado no princípio de “rede de redes”; a versão atual é o IP V.4. Como o número de IPs é finito (portanto, o número de domínios também o é), será necessário uma nova versão. Nessa era “pós 11 de setembro”, a preocupação é a de que essa nova versão utilize criptografia para acabar com o anonimato: “Estamos nas mãos de intermediários da inteligência humana”.
O “investimento” da Microsoft na Internet foi tardio, porém ela se “aproveitou” do sucesso (“feedback positivo”) do seu sistema operacional Windows (hoje “padrão de fato”) e, utilizando o Netscape Comunicator como base, lançou o Internet Explorer. A empresa enfrentou problemas legais quando passou a distribuir o IE com o Windows (acusação de monopólio).
Sérgio falou, então, da esfera pública na era virtual. Citando Habermas, explicou a gênese da “esfera pública” como decorrência dos jornais e da crítica política do século XVIII e XIX que, por sua vez, teve origens na crítica literária que se propagou em cafés e saloons onde artistas e intelectuais se encontravam. Sérgio questiona: “A Internet é uma esfera pública?”; responde que ela pode ser um dos instrumentos da esfera pública, pois permite discussões não controladas – mas que poderiam vir a ser controladas. Um exemplo: impossibilidade de acesso a informação por “problemas técnicos” – que poderiam ser decorrentes de “decisões técnicas”. Esse é um caso de limitador de liberdade que levou o advogado L. Lessig a dizer que “código é lei”. Pelo fato da Internet ser global, ela lida com leis “transnacionais”: daí a necessidade de transparência dos códigos, para que não haja interferências por uma ou outra parte.
Outro exemplo: recentemente, soube-se que o atual presidente dos Estados Unidos George W. Bush, requisitou ao site de buscas Google uma lista com informações de quantas pessoas haviam sido feitas usando certas palavras-chaves em um certo período, e por quem. A Google não forneceu tais dados.
Mais um exemplo: acordos fechados entre Yahoo! e a China. O governo chinês facilitou a chegada do site ao país desde que tivesse acesso aos servidores (e às memórias cache), podendo intervir no serviço a seu critério. A MSN também fez acordo semelhante no país.
Por fim, citou as DRMs, um tipo de licença presente em softwares com base no Wondows XP, que “nada mais é que uma autorização por parte do usuário de ter seu computador vasculhado”. Essa “tecnologia de intrusão” serviria para fiscalização da integridade do código (fechado).
Partindo desses exemplos, Sérgio apresenta o universo dos “Softwares Livres”.
Os primeiros idealizadores dos Softwares Livres & Open Sources acreditavam que idéias não eram “coisas”. Ironizando os “Direitos Autorais” ou “Copyright” norte-americano, surgiu o “Copyleft”, que consiste de quatro liberdades e uma restrição. As liberdades: liberdade de uso, de estudo, de alteração e de redistribuição. A restrição: o produto também tem que ter as quatro liberdades.
O Copyleft consolida o caráter “viral” das redes e a crença de que “o compartilhamento é a base da criatividade e da inovação”. Alguns exemplos relacionados:
- O FreeBSD surgiu quando o Copyleft possuía apenas as quatro liberdades. Assim, o produto criado pela Microsoft sobre o código pôde ser comercializado.
- O Blender – software para desenvolvimento de ambientes e jogos 3D – era “proprietário”. Quando a empresa que o criou faliu, uma comunidade de usuários/programadores coletou fundos na Internet, comprou os direitos e disponibilizou o código-fonte na rede. Hoje, o Blender é um dos softwares open-sources com mais recursos e sucesso.
- Br Office 2.0 – desenvolvido no Brasil, com base no Open Office (que por sua vez é oriundo do Star Office - produto surgido sob a licença Copyleft tal como é atualmente (quatro liberdades e uma restrição).
Iniciou-se uma discussão sobre “valores”: a “eficiência econômica do software livre”.
“Software” é um bem imaterial e, como tal, caracteriza-se pela ausência de escassez e de desgaste (a mídia que o transporta sofre de escassez e desgaste, pois é material). A única forma de controlá-lo é negar o acesso a ele.
“Por que a indústria da pirataria não ‘libera’ o código-fonte dos programas?”, pergunta Ségio. “Se abrissem o código-fonte, não haveria necessidade do “executável”, portanto, não haveria “pirataria”. É por esse motivo que Sérgio prefere chamá-lo de “corsários”, pois, valorizando o produto e não a idéia, sustentam a indústria do software proprietário (indústria essa que reagiu com propaganda ostensiva e a idéia do FUD quando surgiram os softwares livres).
Sérgio termina apresentando dados sobre o que está sendo feito e o que esta por vir no cenário mundial dos softwares livres:
- Softwares livres como alternativa para cortar gastos: exemplo da Nokia, que utiliza Linux para programar celulares.
- Softwares livres bem sucedidos: Apache – presente em 2/3 dos servidores do mundo, e o FireFox – melhor navegador da Internet.
- Projetos no Brasil: PC Conectado; projeto de viabilidade de uso de Softwares Livres nas salas de informática das escolas públicas (com recursos do FUST) – nesse ponto, Sérgio compara gastos com licenças de softwares proprietários com os gastos (e vantagens) de treinamentos de monitores.
- Outros projetos: Redes Mesh; Wikipedia; redes wi-fi inteligentes; “One Laptop for Child”, do profº Negroponte.
Palestra Aberta:
Sérgio Amadeu: “Economia do Conhecimento”
Na sociedade informatizada e em rede, a velocidade de circulação de capital é maior que no modelo antecessor; porém, dá margem a uma contradição: bens imateriais são tratados como materiais. Além disso, ao saber que uma única empresa – Microsoft – está avaliada em 37 bilhões de dólares, vê-se que a sociedade da informação reproduziu o sistema de concentração de riquezas.
Define-se três tipos de “bens”, em economia:
- Bem material rival; (?)
- Bem imaterial não-rival; (?)
- Bem imaterial anti-rival; (?)
Um software (bem imaterial) de uso social amplo com código-fonte aberto é “anti-rival”: permite a articulação com maior número de desenvolvedores (colaboração na correção, expansão...) configurando uma “inteligência coletiva” e agregando mais valor. “O que se doa é bem menor do que se ganha”.
Esse é o modelo de desenvolvimento e uso de Softwares Livres:
- Aberto (open source);
- Colaborativo;
- Desenvolvimento mundial;
- Participação da inteligência local;
- Anti-monopolizador (pela licença GPL);
- Distribui riquezas (Exemplo: BSD).
OBS: O caráter “open source” também é de cunho educativo.
A possibilidade de ganho com softwares livres é no campo da prestação de serviços (consultoria, treinamento, aplicações). No caso dos softwares proprietários, as licenças de uso são a fonte de ganho. Programas como Flash, AutoCAD, MS Office têm preços elevadíssimos, e destinados a empresas e Pessoas Jurídicas. Um usuário comum não teria como desembolsar tais valores, recorrendo, muitas vezes, à pirataria. “Não se abre os códigos para “impedir a inteligência coletiva de criar, remixar e melhorar o conhecimento”.
Referências, citações, observações e outros:
- TV Digital: digitalização leva à convergência de mídias.
- Intervoz: site com conteúdo sobre TV Digital.
- “Economia da Informação” – Shapiro/Varian.
- “Mudanças estruturais na esfera pública” - ??
- “A revolta da escrita contra o audiovisual” - ??
- “A Estrada do Sucesso” – Bill Gates, livro.
- “Piratas do Vale do Silício” - filme.
- “The World is Flat” – L. Friedman. Citação na página 120 relativo a Bill Gates.
- “Libere rápido, libere cedo” – Eric Raymond.
- Source forge: www.sourceforge.org.
- “Voice of América”, “BBC Learning”, “Deutsch Welle”: ensino de línguas em rede.
- “Flash Mod/Mob” ???
- EUA: Indústria de entretenimento (Games Música) >Softwares = 2% do PIB do país.
- “Arquimedes” X AutoCAD.
- Redes Mesh: utilizada na Guerra do Iraque.
- Contato: sergioamadeu@uol.com.br.
Alberto Tornaghi: “Pensar Livre e Educação”
Alberto Tornaghi, Físico, pesquisador do uso de tecnologia da informação em ambientes educacionais.
O sistema educacional tradicional é tal como uma rede de arquitetura “estrela”: todos os pontos ligados a um foco, ou seja, alunos sob “comando” do professor. Nesse sistema de informação centralizado, a escola é caracterizada pela competição, pela adequação e pelo autoritarismo.
Alberto fala, então, do quê a escola poderia se tornar com o uso de softwares livres: um espaço de cooperação, de produção cultural e de libertação. Cita exemplos:
- Projeto Amora da UFRGS: autonomia da grade de estudos, autoria e invenção, relações dinâmicas e variadas.
- LOGO: linguagem de programação como recurso educacional para crianças que vem sendo sub-utilizado.
Frases:
- “Uso do espaço físico como educação”.
- “Escola que pensa no aluno”.
- “Trocar propriedade por direito de uso”.
Contato: tornaghi@uninet.com.br
visite: http://www.logon.com.br/edulink/materias/est_casos_csi.htm
Pensar Livre – Software e Cultura.
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